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Why have there been no great women artists?

Why have there been no great women artists?

Why have there been no great women artists?

 

John Berger (2006: 64), no seu texto clássico (1972) sobre a experiência da visualidade, reflete sobre a diferença entre o observador e quem é observado, explicando que o homem é quem observa e a mulher vê-se a ser vista. O autor argumenta que na pintura, as mulheres eram representadas para serem vistas, como forma de servir o outro, mais especificamente o observador masculino. Descreve como as mulheres são representadas: despidas, vaidosas, passivas, sexualmente atraentes, como um espetáculo para ser avaliado. Não obstante, compreender a representação da feminilidade, também implica entender a construção da masculinidade, na qual, estas representações são percecionadas como parte da construção cultural, mais precisamente da diferença de género. Esta conceção marca a cultura ocidental que, como comenta Irit Rogoff (2002: 24), se foca na centralidade da visão e do mundo visual como produção de significados, estabelecendo e mantendo valores estéticos, estereótipos de género e relações de poder dentro da cultura. Berger (2006: 59 e 60) re flete esses papéis desiguais dos homens e das mulheres, traduzindo-se na forma como os géneros são representados. Na sua análise, além das imagens, aborda a experiência visual que estas causam, na medida em que os homens e as mulheres têm experiências diferentes, logo a começar pela presença social. A presença social de um homem está relacionada com o seu poder, enquanto que a de uma mulher é avaliada pela forma como se apresenta em público, dependendo das suas atitudes, roupas, expressões e opiniões. A forma como se apresenta vai determinar o modo como o homem a tratará.

Linda Nochlin, no artigo “Why have there been no great women artists?” de 1971 reflete sobre como a questão de igualdade das mulheres na arte ou em outra área, não reincide sobre a generosidade ou a má intenção de certos homens, ou sobre o otimismo ou “natureza desprezável” de algumas mulheres, mas sim na essência das nossas organizações institucionais e na conceção de realidade que estas estabelecem sobre os seus colaboradores. Quando algo não está de acordo com estas normas instaladas na sociedade, parece ser antinatural, é por isso necessário criar um ambiente onde a igualdade de oportunidades não seja apenas possível, mas que seja ativamente reforçada pelas organizações sociais. No artigo, Nochlin expõe as barreiras impostas pela sociedade que dificultaram as mulheres de não terem uma profissão no campo das artes ou de serem reconhecidas como artistas. A autora argumenta que algumas feministas afirmam que existem diferenças sobre o significado de grandiosidade para homens e mulheres na arte e a arte produzida por mulheres ou por um grupo de mulheres que tem como objetivo abordar a experiência da própria mulher, deve ser reconhecida como arte feminista.

Ao longo da história da arte foram considerados artistas um número maior de homens do que mulheres, porém quando observamos o que está representado nas obras, verificamos que a situação se inverte, sendo que, foram retratadas mais mulheres. O cartaz representado na figura, “Do women have to be naked to get into the Met. Museum?” faz parte de uma série desenvolvida pelo grupo de artistas feministas, Guerrilla Girls (GG), que se mantém de forma anóni- ma, desde 1985, em Nova York. O grupo é conhecido por utilizar máscaras de gorila em público, recorrem à divulgação de factos e recursos visuais para exporem preconceitos étnicos e de género, assim como a corrupção na política, arte, cinema e cultura pop. GG baseiam-se na teoria do feminismo intersecional para combater a discriminação e apoiam os direitos humanos para todas as pessoas. “The advantages of being a woman artist” é um cartaz que teve muito impacto quando as Guerrilla Girls o espalharam pela cidade. O grupo recorreu à ironia para descrever algumas “vantagens” de ser artista mulher, dado que, o que encontramos no poster são falsas desvantagens e ao mesmo tempo manifestam as dificuldades de uma mulher ter tanto sucesso quanto um homem no campo artístico. Algumas dessas “vantagens” são as seguintes: poder trabalhar sem pressão para o sucesso; saber que qualquer tipo de arte que fizer terá o rótulo de feminino; ver as suas ideias no trabalho de outros; ter a oportunidade de escolher entre a carreira artística e ser mãe; ter mais tempo para trabalhar quando o seu marido a troca por alguém mais jovem ou ainda de ter uma fotografia sua em revistas de arte com a máscara de gorila. O tom irónico e o riso são elementos que atravessam os trabalhos das GG, que expõem e promovem a desconstrução de um imaginário de igualdade no campo das instituições artísticas.

Ao longo da segunda metade do século XX e até ao nosso tempo, várias artistas deram visibilidade a causas feministas. Uma das primeiras obras reconhecida como feminista é The Dinner Party de Judy Chicago, representada nas figuras acima . A obra simboliza mulheres que foram importantes desde as primeiras civilizações até ao século XX, mas que não tiveram o devido reconhecimento. A instalação consiste num banquete cerimonial, numa mesa triangular com 39 lugares, em que cada um representa uma mulher importante da história. A mesa contém utensílios em ouro e pratos de porcelana pintados à mão com representações de vulvas no estilo artístico associado à mulher homenageada. Também inclui mais 999 nomes de outras mulheres inscritos em ouro, debaixo da mesa, no piso de ladrilhos brancos. A mesa é triangular por ser uma figura associada ao feminino e a forma do triângulo equilátero representa a igualdade, colocando 13 pratos em cada lado. Este número refere-se à Última Ceia, em que só foram representados homens. A obra comemora conquistas femininas tradicionais, como arte têxtil e pintura em porcelana, que foram consideradas artesanato ou “arte doméstica”, em contraste com as belas artes, estimada como arte masculina.

Na nossa sociedade, obras relacionadas com as mulheres, ainda provocam muito impacto. São temas que desencadeiam grandes discussões, nas quais as opiniões se dividem com bastante facilidade. O início do ano de 2021, foi marcado pela obra de land art da artista plástica Juliana Notaria, representada na figura 7. A obra foi intitulada de “Diva” representa uma vulva ferida com 33 metros de comprimento, 16 metros de largura e com 6 metros de profundidade. Esta está localizada na Usina Santa Terezinha, em Água Preta, mais precisamente no Brasil. A obra foi esculpida com as mãos para poder ter o detalhe que a “Diva” possui, recoberta de betão armado (sistema estrutural da construção civil) e resina, utilizando a cor vermelha. Questiona a relação entre a natureza e a nossa sociedade ocidental, é sobre o corpo feminino, sobre as mulheres que foram violadas, queimadas, o corpo das pessoas negras que foram escravizadas, o corpo oprimido, a mutilação genital e sobre a misoginia (Podcast Programa Entre: 2020). Atualmente, a perceção do corpo feminino ainda é um tabu, a sexualidade, a própria vulva, o sangue menstrual, inclusive, a forma como a mulher tem de se apresentar na sociedade. Também é uma chamada de atenção para a representação do órgão genital feminino, mais especificamente, para a diferença entre a vulva e a vagina. A obra de Juliana “perdeu” o nome original da peça, uma vez que, os media começarem a referir-se à obra como vagina. Isto revela que a maioria das pessoas tem falta de conhecimento sobre o corpo feminino confundindo a vulva com a vagina, o lado exterior do sexo feminino e o “mais aceitável” interior. A arte está na sociedade, não é algo que se encontra à parte.

Material consultado:

Berger, J., 2006. Modos de ver. Coimbra: Edições 70.

Entre, Podcast Programa, 2020. Juliana Notari. Brasil.

Nochlin, L., 1971. Why have there been no great women artists? em Artnews.

Rogoff, I., 2008. Studying visual culture em The feminist philosophy reader, 1.aed New York: McGraw-Hill.

Imagens:

Cartaz “Do women have to be naked to get into the Met. Museum?” de Guerrilla Girls, 1989.
https://www.guerrillagirls.com/naked-through-the-ages

Cartaz “The advantages of being a woman artist” de GG, 1987/1988.
https://www.guerrillagirls.com/projects

Fotografias da obra “The Dinner Party” de Judy Chicago, 1979.
https://judychicago.com/gallery/the-dinner-party/dp-artwork/#7

Fotografias da obra “Diva” de Juliana Notaria, 2020. 
https://revistacontinente.com.br/secoes/critica/-diva—de-juliana-notari–e-uma-ferida

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